Análise: Slash - Slash (2010)


Não nos conseguimos conter: estamos perante um dos melhores álbuns dos últimos anos! Slash cuja brilhante carreira fez dele um dos melhores e mais aclamados guitarristas de todos os tempos, volta ao lançamento de música mas, desta vez, sob a chancela do seu próprio nome. Para além dos Guns n’ Roses e dos Velvet Revolver, Slash já havia lançado o projecto Slash’s Snakepit com dois álbuns mas, segundo ele, este é verdadeiramente o seu primeiro álbum a solo pois, no caso dos Snakepit, o projecto funcionava como uma banda onde cada um dos elementos contribuía no processo criativo.

No homónimo “Slash”, o guitarrista fez tudo conforme a sua mente criativa o incitava a fazer e o resultado não poderia estar melhor. Tendo rodeado-se de inúmeras estrelas de várias áreas da música, Slash oferece-nos um álbum carregado de ilustres convidados. Como banda residente, na bateria temos o multi-galardoado e experiente Josh Freese, baterista dos Nine Inch Nails e A Perfect Circle e no baixo temos Chris Chaney dos Jane’s Addiction.

Cada uma das faixas conta com, pelo menos, uma estrela da música com nomes clássicos como Ozzy Osbourne, Alice Cooper, Dave Grohl (Foo Fighters e Nirvana), Flea (Red Hot Chili Peppers), Lemmy (Motorhead), Ian Astbury (The Cult), Iggy Pop, Chris Cornell (Soundgarden, Audioslave), Kid Rock, Nick Oliveri (Queens Of The Stone Age) e até Cypress Hill. Mas também houve espaço para nomes mais jovens embora bastante proeminentes na indústria da música, tanto na vertente pop actual, como Fergie (Black Eyed Peas), Nicole Scherzinger (Pussycat Dolls) e Adam Levine (Maroon 5), como na vertente mais pesada como M.Shadows (Avenged Sevenfold) ou Andrew Stockdale dos Wolfmother.
O elenco é de luxo e até os elementos originais dos Guns n’ Roses Izzy Stradlin, Duff Mckagan e Steven Adler dão o seu contributo em músicas separadas. Apenas Axl Rose não aparece neste álbum...

Uma das principais características no disco é a heterogeneidade. Ainda que a guitarra de Slash seja o elemento comum em cada uma das músicas, a verdade é que podemos encontrar Heavy Metal do mais pesado em “Nothing To Say” com M.Shadows, Rock clássico a fazer lembrar Led Zeppelin com Andrew Stockdale em “By The Sword”, Hard Rock puro e duro com Lemmy em “Doctor Alibi”, Pop rock com Fergie em “Beautiful Dangerous”, Rock Blues com Myles Kennedy em “Starlight” enfim, cada música é um novo capítulo e uma diferente viagem.

E entre todas as coisas que gostamos neste álbum, esta é uma das nossas preferidas: a capacidade de Slash em recriar-se dentro dum universo tão grande e tão complexo como são todos os estilos de música aqui presentes. E o melhor de tudo é que o guitarrista cabeludo nunca compromete negativamente, seja em que estilo for. Slash dá-nos assim uma sensibilidade musical que é raro encontrarmos num artista. Se tivermos que admitir que Slash é o melhor guitarrista vivo no mundo, não o faremos baseando-nos na sua técnica mas, principalmente, na sua sensibilidade e harmonia e na sua capacidade de fazer da sua guitarra aquilo que ele quer.

Dada a hetereogeneidade de músicas e participações, decidimos analisar cada música em separado, de uma forma sucinta:

Ghost – É a faixa do álbum que mais nos faz lembrar a sonoridade dos Guns n’ Roses, com várias guitarras bem sujas mas que se interligam perfeitamente umas nas outras. Esta é também a única música do álbum onde Slash não assegura todas as guitarras sozinho pois teve a ajuda de Izzy Stradlin, antigo guitarrista dos Guns n’ Roses. Ian Astbury dos The Cult, faz aqui um bom trabalho nas vozes com bastantes variações de tom. É um óptimo cartão de visita para o resto do álbum.

Crucify The Dead – Uma balada algo pesada com uma guitarra de Slash muito inspirada e melodiosa. As vozes e letra são asseguradas por Ozzy Osbourne que encaixa perfeitamente na música. Destaque para a letra que, segundo Ozzy, é tudo aquilo que ele diria ao Axl Rose, se estivesse no lugar de Slash. É tecida uma crítica – lógica – a Axl embora nunca de uma forma agressiva mas sim manifestando uma certa indiferença. Uma excelente música no seu todo.

Beautiful Dangerous – Esta música divide-nos. Não pelo facto de, como muitas pessoas, acharmos que Fergie, sendo uma cantora pop, nada tem a ver com Hard Rock. Nesse aspecto, consideramos que Fergie é uma excelente cantora e encaixa bem neste género de música. Aquilo que não gostámos particularmente é o facto do refrão fazer-nos lembrar muito “Paparazzi” de Lady Gaga. Parece quase uma cópia. Concerteza foi algo que ultrapassou os músicos enquanto estavam no estúdio. Ainda assim, este é um dos instrumentais mais interessantes do guitarrista com muitas variações e um género que é rock e, ao mesmo tempo, também é pop e catchy. A bridge da música encaixa que nem uma luva na voz de Fergie. Se não fosse a parecença com a Lady Gaga, seria uma das nossas preferidas. Ainda assim, é uma boa música e Fergie está aprovada no caso de querer enverederar por um estilo de música rock.

Back From Cali – Foi a última música a entrar no álbum e é cantada por Myles Kennedy dos Alter Bridge que é o único cantor a colaborar em mais do que uma canção no disco. Aqui temos uma boa e coesa faixa rock com um cariz mainstream e que funciona bem. O poder vocal de Myles é extremamente bom e portanto agarra bem a música, fazendo dela um possível single.

Promise – Absolutamente fenomenal. É uma das nossas preferidas e demonstra um Slash hiper criativo com uma guitarra que “canta” em vez de fazer soar notas, juntamente com Chris Cornell que canta de uma forma soberba. O refrão é bastante orelhudo e a secção rítmica de baixo e bateria também tem responsabilidade por fazer esta música soar tão refrescante, nova e acima de tudo, ser uma excelente música.

By The Sword – Outro dos pontos altos no álbum. Segundo Slash, esta é a sua preferida do disco e talvez tenha sido por isso que foi a música escolhida para ser o primeiro single. Neste caso, temos Andrew Stockdale dos Wolfmother que canta e compõe soberbamente fazendo desta uma faixa de rock bem clássico que nos faz imediatamente lembrar os Led Zeppelin. Slash volta a encantar-nos com o seu solo de guitarra. A originalidade é mantida e o ritmo meio lento mas ao mesmo tempo pesado, transporta-nos para uma viagem psicadélica que muito nos faz lembrar não só os Led Zeppelin como os próprios Wolfmother.

Gotten – Uma balada bem calma com uma bonita melodia. É a música mais suave e harmoniosa de todo o álbum e funcionou muito bem com a colaboração de Adam Levine dos Maroon 5 e da sua boa colocação de voz neste tipo de música. Um bom momento que permite ao ouvinte respirar e preparar-se para a velocidade da próxima música.

Doctor Alibi – Contando com Lemmy dos Motorhead, esta faixa define na perfeição aquilo que nós, Rock Ends Rolling, acreditamos que uma boa música de Hard Rock deve ter: atitude, velocidade, variação de tempos, solo de guitarra mordaz, e uma voz bem rebelde e bem rija. Outra das nossas preferidas. Um clássico instantâneo.

Watch This – Este é o único instrumental do álbum e aqui Slash contou com Duff Mckagan, antigo baixista dos Guns n’ Roses e Velvet Revolver e com Dave Grohl, antigo baterista dos Nirvana e actual vocalista dos Foo Fighters. Sendo um instrumental pesado e com bastante distorção nas guitarras, está bem conseguido pois consegue fazer a proeza de juntar na perfeição a forma clássica de tocar guitarra de Slash e a forma de tocar bem grunge e barulhenta de Dave na bateria. Temos pena que não tenha sido colocada uma voz nesta música mas, ainda assim, consegue resultar bem enquanto instrumental, dada a sua boa qualidade.

I Hold On – Esta parece ter sido integralmente escrita por Kid Rock dada a sua semelhança com as suas próprias músicas. Com um refrão a funcionar perfeitamente com uns coros constantes, esta é uma boa música e não haveria melhor homem no mundo para a cantar do que o próprio Kid Rock. Aprovada.

Nothing to Say – A faixa mais pesada do álbum – se não contarmos com a versão de Nick Oliveri dos Queens Of The Stone Age – está carregada de bons pormenores técnicos e velocidade de execução. Também lembra Avenged Sevenfold e, portanto, M.Shadows encaixa bem neste género de música. Mais uma vez Slash prova que sabe tocar qualquer estilo de música de forma exímia. Destacamos o solo da música onde Slash nos enche os ouvidos como só ele sabe fazer. É mais um bom momento no disco.

Starlight – Myles Kennedy volta a fazer parceria com Slash para nos dar mais outra das melhores em todo o álbum. A canção começa com uma guitarra muito bluesy e logo arranca para um refrão mais Hard Rock onde a voz de Myles nos consegue arrepiar com uma escalada de tom inesperada e difícil. Este homem sabe cantar, sem dúvida. O solo de guitarra de Slash nesta música também é um dos nossos preferidos.

Saint Is A Sinner Too – A surpresa de todo o álbum! Em primeiro lugar, Rocco DeLuca é o nome menos conhecido entre os ilustres convidados de Slash. E em segundo lugar, esta é a nossa preferida de todo o álbum. Aqui a beleza da voz de Rocco e as várias guitarras acústicas e tão magistralmente coordenadas por Slash, parecem transpor a barreira da lucidez para nos deixarem arrepiados e deleitados. Mesmo sendo acústica, esta música assume um cariz épico como Queen ou Muse sabem fazer. No entanto, não é nessas bandas que parece estar a inspiração mas antes em Jeff Buckley e nas suas baladas acústicas e épicas. Uma das melhores que ouvimos nos últimos anos. Absolutamente bela!

We're All Gonna Die – A última faixa do disco conta com a participação do respeitável Iggy Pop. Curiosamente, talvez seja a faixa menos forte do álbum. Não por não ter qualidade mas talvez pelo facto de todas as outras serem mais fortes. Ainda que o riff de guitarra onde a música se apoia seja catchy e bem feito, o refrão parece um pouco desinspirado. Achamos que o álbum ganharia mais se tivesse terminado com “Baby Can’t Drive” que infelizmente foi renegada para os bonus tracks do disco.

Existem ainda vários bonus tracks onde destacamos a interessantíssima e bem disposta “Baby Can’t Drive” que conta com Alice Cooper e Nicole Scherzinger nas vozes acompanhados por Steven Adler nas baquetas e Flea, dos Red Hot Chili Peppers, no baixo. "Chains and Shackles" é uma versão da música “Nothing To Say” que conta com a participação de Nick Oliveri dos Queens of the Stone Age, que mesmo sendo enérgica e interessante fica aquém da versão de M. Shadows. “Mother Maria” é uma calma música com um cariz folk que Slash fez em colaboração com a vocalista Beth Hart para as vítimas da tragédia no Haiti e “Sahara” é uma boa e simples música de rock em japonês com o excelente vocalista Koshi Inaba, dos B’z. Dentro dos bonus tracks, apenas não gostámos da nova versão de “Paradise City” com os Cypress Hill e Fergie. Sempre que uma versão é inferior à música original é um esforço em vão...

Por fim, em jeito de análise final, resta-nos dizer que Slash nos brindou com mais um excelente álbum na sua imaculada carreira e que deve ser adquirido por qualquer pessoa pois, dada a heterogeneidade do mesmo, tem capacidade para agradar a gregos e a troianos, isto é, a pessoas que gostam de géneros musicais diferentes.

Desde que o começámos a ouvir, ainda não o tirámos do nosso leitor de cds!

O álbum da década.

Tracklist:
1. Ghost (Feat. Ian Astbury & Izzy Stradlin)
2. Crucify The Dead (Feat. Ozzy Osbourne)
3. Beautiful Dangerous (Feat. Fergie)
4. Back From Cali (Feat. Myles Kennedy)
5. Promise (Feat. Chris Cornell)
6. By The Sword (Feat. Andrew Stockdale)
7. Gotten (Feat. Adam Levine)
8. Doctor Alibi (Feat. Lemmy Kilmeister)
9. Watch This (Feat. Dave Grohl & Duff McKagan)
10. I Hold On (Feat. Kid Rock)
11. Nothing To Say (Feat. M Shadows)
12. Starlight (Feat. Myles Kennedy)
13. Saint Is A Sinner Too (Feat. Rocco DeLuca)
14. We're All Gonna Die (Feat. Iggy Pop)

Bonus Tracks:
1. Baby Can't Drive (Alice Cooper, Nicole Scherzinger, Steven Adler & Flea) Classic Rock version
2. Sahara (Koshi Inaba) Japanese version
3. Chains and Shackles (Nick Oliveri) Australian version
4. Paradise City (Cypress Hill,Fergie) Australian version
5. Mother Maria (Beth Hart) iTunes version

Músicas em Destaque:
Promise;
By The Sword;
Doctor Alibi;
Starlight;
Saint Is A Sinner Too;

Nota Final (1/20):
19

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