Análise: Guns n' Roses - Chinese Democracy (2008)


O Rock Ends Rolling publica a esperada análise ao álbum “Chinese Democracy” dos Guns N’ Roses. Devido a ser um dos álbuns da história da música que mais tinta fez correr, iremos analisá-lo com o máximo cuidado possível sem com isso, nos perdermos em análises a outras coisas que não as músicas de “Chinese Democracy”.

E este é o nosso ponto de partida: em muitos sítios temos lido que, devido a ser um álbum que procura novas paragens para além das contidas no universo do passado da banda, “Chinese Democracy” não devia ser lançado como álbum dos Guns N’ Roses mas sim de Axl Rose, pois é ele o único elemento original da banda. Ora, ainda que isso seja verdade, parece-nos que não é isso que importa a quem quer saber se "Chinese Democracy" é bom ou não. Além de que podíamos citar dezenas de bandas com as quais aconteceu exactamente o mesmo.

De facto, e mesmo que as músicas sejam diferentes do que as que a banda fez entre 1987 e 1991, encaramos que esta é segunda etapa dos Guns N' Roses. Ou, se quisermos ser mais rigorosos, esta é a terceira etapa porque já mesmo em 1991, com o lançamento dos álbuns “Use Your Illusion” 1 e 2, a banda escreveu outro capítulo bem longínquo de “Appetite For Destruction” chegando mesmo a ser criticada por, de um momento para o outro, ter começado a tocar com piano e orquestras que muito se afastavam do espírito bem cru do primeiro álbum. Assim sendo, servimo-nos desta introdução para clarificar que, não estamos aqui para analisar Axl Rose e o seu comportamento pois não somos psicólogos. O que estamos aqui a fazer é a analisar as 14 músicas contidas em “Chinese Democracy”.

Passando à análise do álbum mais caro da história e que estava prometido desde 1994, podemos dizer que, acima de tudo, é um trabalho megalómano. Tudo é grande em “Chinese Democracy”: o número de músicos participantes (5 guitarristas, 2 bateristas, 2 teclistas, 1 baixista); o tempo que demorou a ser feito (cerca de 15 anos desde o último trabalho de estúdio em 1993 - "The Spaghetti Incident?"), aquilo que o mesmo custou (13 milhões de Dólares e, portanto, o segundo álbum mais caro da história – atrás de “Invincible” de Michael Jackson); o envolvimento da marca Dr. Pepper que anunciou – embora não tenha cumprido – que daria uma Cola a cada americano se “Chinese Democracy” saísse em 2008; e até a própria duração das 14 músicas que ultapassam os 70 minutos. Vamos mais longe: aquilo que consideramos mais megalómano no álbum são mesmo as próprias músicas.

Longe vão os tempos da simplicidade de músicas como a excelente “It’s So Easy” de 1987. Aqui o que temos são verdadeiras teias musicais onde se interligam inúmeras orquestrações, ínumeros samples, inúmeras guitarras sobrepostas e inúmeros beats de bateria compactos. Sim, “Chinese Democracy” não é de todo para o amante de música simples com duas guitarras, um baixo e uma bateria. Comparativamente, não é melhor nem é pior. É diferente, vai mais além. Axl tentou criar algo diferente de tudo o que já existia e, sem dúvida, conseguiu-o. Com inúmeras influências díspares tais como Queen ou Nine Inch Nails, criou um álbum complexo que, para ser bem dissecado e compreendido, requer muitas audições.

Quanto às músicas, temos para todos os gostos: desde as mais enérgicas e violentas até às mais calmas e melosas. O que é certo, é que cada uma das músicas teve muito tratamento e arranjos. Os arranjos estão, regra geral, muito bem conseguidos exceptuando a fabulosa “Catcher In The Rye” que teria beneficiado se estivesse mais limpa e pura. Neste caso, pareceu-nos que a parafernália de instrumentações foi além do desejável - chegámos mesmo a ouvir uma demo da música onde entrava Brian May dos Queen que nos pareceu que, por estar mais limpa, estava também mais bonita. Ainda assim, “Catcher In The Rye” é uma das melhores músicas e tem uma letra muito bem conseguida que nos remete para o assassínio de John Lennon. Além desta, temos as excelentes “Better” (talvez a faixa mais forte do álbum e suposto single); “Street Of Dreams” (que faz lembrar o melhor que a banda fez no passado); “There Was a Time” (onde brilham as guitarras, os coros e a grandiosidade de toda a música); “Madagascar” (que conta com excertos dos discursos originais de Martin Luther King Jr. e onde mais uma vez, a palavra a utilizar é “Grandiosidade”); “This I Love” (a balada do álbum melancólica e com um Axl a fazer um trabalho perfeito nas vozes) e “Prostitute” (também uma das nossas preferidas e onde tudo parece funcionar na perfeição). Todas as outras restantes músicas estão muito bem conseguidas e são dignas da nossa apreciação. Só mesmo “If The World” e, de certa forma, “Scraped” pelo seu refrão irritante, conseguem romper com a qualidade presente no disco. “If The World” parece-nos despropositada, com um Axl a choramingar vocalizações muito arrastadas e com um instrumental que lembra um genérico de uma novela brasileira. Tem apenas alguns pormenores interessantes de guitarra clássica.

Os músicos presentes são extremamente virtuosos e fazem um bom trabalho. Nas partes de guitarra temos bons solos embora, na nossa opinião, mesmo sendo mais complexos e de difícil execução, não chegam a roçar a sensibilidade da guitarra de Slash.

Concluindo, a nossa nota final é muito, muito positiva. São os músicos interventivos e criativos que sempre fizeram – e continuarão a fazer – a história da música. Axl Rose é um desses músicos. Nota-se que sabe para onde quer ir. Nota-se que quer lá chegar. “Chinese Democracy” é indispensável para todos. Para amantes de rock, para amantes de música clássica, para amantes de música industrial, para jovens, para adultos. Para nós, não é o melhor da banda, mas também está longe de estragar a qualidade dos Guns N' Roses. Como já dissemos, é um novo capítulo na história de uma das melhores e maiores bandas do mundo. Podemos ignorá-lo mas estaremos apenas a ignorar música de qualidade superior.

Tracklist:
1. Chinese Democracy
2. Shackler's Revenge
3. Better
4. Street Of Dreams
5. If The World
6. There Was A Time
7. Catcher In The Rye
8. Scrapped
9. Riad N' The Bedouins
10. Sorry
11. I.R.S.
12. Madagascar
13. This I Love
14. Prostitute

Músicas em Destaque:
Better;
Street Of Dreams;
Prostitute;
There Was A Time;
Catcher In The Rye;
Madagascar;
This I Love;

Nota Final (1/20):
18

1 comment:

Goleador said...

Cada vez gosto mais deste CD !!! Infelizmente só se lembram dos Guns pelos atrasos do Axl...

Grande concerto no atlântico !!
Deste albúm deviam também ter tocado a TWAT a Prostitute...

cumps